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Galeria

Aula Aberta na Biblioteca dos Olivais

fotos: Rui Elias

Na aula aberta da Biblioteca dos Olivais, que ocorreu no dia 8 de fevereiro de 2020, trabalhámos três quadros baseados em três obras: Inferno, de Dante, As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift e 1984, de George Orwell.

Um Encontro de Escritores

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O Laboratório de Escrita Criativa e Teatro que decorreu entre 8 de novembro de 2019 e 24 de janeiro de 2020 na Academia Inatel concluíu com a apresentação de um exercício cénico intitulado Um Encontro de Escritores.  Resultado de 10 sessões de escrita e improviso, versou sobre 5 escritores de géneros literários diferentes que competem entre si pelo prémio literário de uma aldeia bizarra onde tudo se passa ao contrário.  

Imagem: Susana Mourão

A Caravana dos Sem-Terra

A Caravana dos Sem Terra é uma peça que resultou do Laboratório de Escrita Criativa e Teatro, realizado pela Escriativar, na Junta de Freguesia do Lumiar, entre 14 de Janeiro e 18 de Abril de 2019. O Laboratório teve a duração de três meses, com aulas uma vez por semana, alternando-se as sessões de Escrita Criativa e as de Teatro. Os participantes desenvolveram uma grande empatia e conexão criativa entre eles e foi possível trabalhar sobre temas como as cidades utópicas, a infância perdida e a procrastinação. O texto foi escrito em conjunto e incluiu-se alguns excertos da obra Cidades Invisíveis, de Italo Calvino. No final foi possível apresentá-lo em forma de leitura encenada no festival Felizmente Há Lumiar, da JFL, no auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, no dia 18 de Abril de 2019. Os formadores Luís F. Soares e Joana Mealha dos Santos agradecem mais esta oportunidade proporcionada pela JFL de levarmos a Escrita e o Teatro aos cidadãos. 

O MANIFESTO

PESSOAL

Leitura do Manifesto Pessoal

Basta!

Basta! de ironizar as crianças.

BASTA! dos adultos que tratam as crianças como se nada soubessem.

BASTA! dos professores sem emoção e sem noção de missão.

ABAIXO! o medo de dizer que os professores estão errados, de dizer não.

Basta! de gargalhadas forçadas para disfarçar o que não se ouve.

Basta! do “pois está bem”… do “vemos depois”… agora fica assim. Pedro Xavier

Leitura do Manifesto Pessoal

Oh Mãe! Mãe!

Que não podes ser porque tens que ser tudo e o tudo tornou-se demais. Mal distribuído, sem sentidos, parido com hora marcada e anestesia mal dada para poupar agulhas.

Sujas e conspurcadas para espalhar males e pragas fabricadas para entorpecer mentes que mentem.

Viva!

Viva a verdade, a integridade, a liberdade.

Viva o silêncio, a ternura, o amor.

Viva eu e tu e nós.

Viva a limpeza,

A mesa posta, a salada temperada com sal, azeite e vinagre, sem porquê nem gourmet,

A cebola e o alho. Lavamos os dentes a seguir.

Seguir sem saltos barreiras, sem hinos nem bandeiras que as fronteiras têm filas impossíveis que duram mais do que a hora de jantar. Cristina Figueiredo

Criança - Malebolge era a nossa cidade!

Joaquim - Quando a grande barragem rebentou, as águas afogaram-nos nos nossos sonhos.

Sara - Quando a grande barragem rebentou a esperança navegou rio abaixo.

Dancibel - Malebolge era a mais linda das cidades!

Xhia - Malebolge era um antro de corrupção!

Criança - Malebolge era tudo!

Joaquim - Malebolge era nada!

Sara - Quando a grande barragem rebentou ficámos sem os nossos lares.

Dancibel - Ainda bem! Malebolge era imunda!

Xhia - Quando a grande barragem rebentou, ficámos sem os nossos familiares.

Criança - Valha-nos deus! Malebolge era abençoada!

Joaquim - Viajamos há muitos dias.

Sara - Estamos perdidos e cansados.

Dancibel - Em toda a Europa não há quem nos acolha!

Todos – Somos desterrados!

Xhia - Mas já ouviram falar da nova terra no sudoeste longínquo?

Criança - Pandora! Uma terra iluminada!

Joaquim - Pandora, um poço de vício!

Sara - Pandora, donde brota o leite e o mel!

Dancibel - Pandora, a nossa perdição.

Xhia - Quando a grande barragem rebentou ficámos livres!

Criança - Quando a grande barragem rebentou ficámos condenados.

Joaquim - Em frente! Para Pandora, a nova Jerusalém!

Sara - Para trás! Longe de Pandora, a nova Sodoma!

Dancibel - A grande barragem rebentou!

Todos – Resta-nos caminhar!

Felizmente Há Lumiar!

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O laboratório intensivo de Escrita Criativa e Teatro que decorreu na Junta de Freguesia do Lumiar, no âmbito do festival Felizmente Há Lumiar, em Abril de 2017, foi dividido em 3 aulas teóricas e 4 aulas práticas, com os formadores Luís F. Soares e Carina Branco Dias. No último dia do festival realizou-se a cerimónia de apresentação dos textos dos participantes. Trechos desses textos foram depois publicados no boletim mensal da Junta de Freguesia do Lumiar. Apresentamos aqui alguns desses trabalhos, acompanhados de fotografias da cerimónia final.​ As fotos são da cortesia de Joana Mealha dos Santos. Agradecimentos à JFL que foi ímpar na organização.

Leitura do conto

Abre-se a cortina na plateia, que o assassino podia ver não mais que cinco pessoas: a mãe, é claro, uma mãe sempre acreditará em sua cria, para ela aquele bebé seria incapaz de tal violência; o casal Wintons com olhos inebriados de prazer por aquele momento de vingança pela filha morta; e duas outras mulheres que o assassino jamais conhecera, dizia o jornal tempo depois.

Certo é que aquelas mulheres afundadas em imenso desespero e tristeza, entre lágrimas e soluços cativavam a piedade de algumas pessoas naquela praça, que já se punham em dúvida quanto à situação do assassino.

Aquelas mulheres chamaram atenção tanto quanto o executado, que logo estavam a dar entrevistas, foi quando soubemos que ambas se intitulavam namoradas do assassino e que se correspondiam com ele, mas nunca o haviam visitado.

Sim, tenho a esperança que tenham sido essas mulheres e suas cartas que certamente preencheram as noites escuras e de solidão daquele prisioneiro. Foram aqueles olhos de profundo pesar a última visão do assassino às 17h30m.  Ana Paula Souza

Leitura do conto

Sam Pecket estava preso na torre de Londres. Pela manhã desceram-no ao cadafalso e ele conseguiu ouvir o burburinho das pessoas que se amontoavam e opinavam sobre ele.

Eu estava presente. Ao meu lado uma lavadeira chorava e gritava:

- Sam, o teu filho terá orgulho de ti!

- Jean, ele está inocente? Quem matou o Ken?

- Estúpida mulher, vai para casa pôr as couves ao lume.

Rugiu o homem de chapéu, mais atrás. E virando-se para mim, perguntou.

- Como se chama a senhora, é estrangeira?

- Sim, sim, sou Terry.

- Sabe, o rapaz nem nunca matou uma galinha sequer. Alguém o apanhou por vingança.

- Sam, cospe-lhes, manda-os para o Inferno! Amo-te!

Gritava-lhe uma jovem de trança loira.

Eu nunca soube quem era mesmo o assassino.

Sam Pecket morreu naquele patíbulo frio e aclamado pelas mulheres e defendido pelos homens mais velhos. Eu própria, que não o conhecia, senti afeição, pena, carinho, talvez, porque ele ia ser pai, era bonito e acho que a dada altura me sorriu.

Por isso precisei rezar por ele. Saí dali para procurar um lugar de culto. Teresa Gonçalves

Leitura do conto

Tenho instalado uma nova app. Chama-se RPMF. Deve ser o tal jogo que o pessoal está todo viciado. Surgem agora as instruções no meu telemóvel. São tão claras e simples de perceber. É tudo tão óbvio. Com esta app, o RPMF- “Reconstruir o Passado, Moldar o Futuro”, podemos voltar atrás no tempo. Podemos voltar ao momento no passado em que se pretende e aí podemos reconstruir o passado, moldar o presente e o futuro. Num flash, percebo as inscrições que estavam no telemóvel do miúdo à beira do paredão. Das mensagens de texto no rádio do táxi. Tudo ficou claro. Cada uma destas pessoas encontra-se a reconstruir um novo passado, para criar um novo futuro. Dos destroços surgirá uma réplica melhorada. Nós, utilizadores desta app, seremos o novo recomeçar após a destruição, o renascer depois do fim. Construiremos de novo, alterando o passado. Esta nova sociedade viverá numa réplica melhorada moldando o passado, podendo desta forma condicionar o nosso futuro, para que tenha um desfecho diferente.

Poderei aumentar o tamanho do paredão, para que a beira se estenda e o miúdo fique a salvo. Rui Xavier

Leitura do conto

Depois, mais uma coisa estranha aconteceu, mas desta vez já não foi para meu grande espanto, pois a contar com todas as coisas estranhas que já aconteceram, hoje ainda aconteceu mais esta. O tempo parou. Tudo parou. Os carros, as pessoas, tudo menos eu, que continuei a andar e vi uma senhora idosa a ser assaltada e uma rapariga a fazer um pino, que provavelmente iria durar para sempre. Mais à frente reparei que todas as tabuletas agora apontavam para um sentido que indicava a forma de regressar à vida normal. Como é obvio, fui em direção da indicação. Pedro Xavier

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Um ruído forte acordou-me. Olhei à volta estonteada e não vi ninguém. A carruagem estava vazia e o metro andava para trás e para a frente, ininterruptamente ….

Parou de repente. As portas abriram-se e vi um maquinista que sem dizer palavra me disse para o seguir. A medo, atrevi-me a sair e segui-o.

Descemos uma escada em caracol e entrámos num túnel de pedra que parecia não ter fim. Estava escuro como bréu e achei que estava no centro da terra, nas profundezas. Ao longe ouvia o som de uma cascata e imaginei um lago de água cristalina verde clara e azul e um arco-íris. [...]

Abano a cabeça procurando afastar as recordações e aproximo-me da fonte. Vejo o Cálice da Vida.

Está, por fim, ao alcance das minhas mãos, quero tocá-lo mas o meu corpo não me obedece. À minha frente surge um burro que começa a zurrar “Vida Eterna ou Eterna Vida, há que escolher”. Fico confusa, não consigo pensar e o burro continua a zurrar à minha volta: “branco, negro, negro, branco, bom, mau, mau, bom, verso, reverso, reverso, verso, vida, morte, morte, vida”. Dora Maurício

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