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Manifesto

O crescendo de meios de informação e entretenimento da presente sociedade ocidental tem surgido como uma resposta à procura de sentido do ser humano, cada vez mais assoberbado pela velocidade tecnológica que o destitui das antigas vocações e narrativas que antes justificavam a sua existência. Os velhos heróis morreram ou estão a morrer. Os antigos mitos não portam mais o poder libertador e, simultaneamente, inclusivo dos primitivos rituais de passagem. No entanto, a nossa necessidade de progressão na vida e integração num grupo próximo de indivíduos que se apoiam entre si permanece a mesma.

 

A ciência dá-nos a ilusão de termos ultrapassado todas as nossas limitações. Porém, continuamos a sonhar. Continuamos, inclusive, a sonhar acordados com o mito desse herói em tudo autossuficiente que pelo sacrifício em prol da tribo se eleva acima do quotidiano e triunfa sobre a mortalidade. Pela reinvenção do mito, a Escrita Criativa e o Teatro voltam a reestabelecer a ligação entre os indivíduos e o poder de se unirem para criarem mundos.

 

Na Idade Média erigiram-se catedrais no lugar dos antigos anfiteatros. No século XX construíram-se cinemas em vez basílicas. O altar está hoje firmemente assente na nossa casa. Tomamos lugar frente a ele todos os dias, nas nossas salas, e comungamos em sintonia com milhares através da série televisiva, do filme de longa-metragem, da rede social ou do reality show. Reservamos-lhe a altura mais importante do dia: após a labuta extenuante; e rodeados das pessoas mais importantes da nossa vida: a família. É aquilo que prioratizamos logo após a observância das exigências deterministas da condição humana. É a transcendência dessa própria condição. 

A questão já não se trata, portanto, se a arte é ou não uma necessidade. Mas sim se somos parte passiva ou activa do seu processo. Mais que meros espectadores, todos nós temos algo a contribuir para o grande épico dos nossos tempos. 

Luís Filipe Soares

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